30 de Novembro de 2008

Para contar a história desta aldeia transmontana temos de contar a de toda a região envolvente, isto porque infelizmente os relatos do passado deste lugar não proliferam, devem ter-se perdido nas memórias não escritas daqueles que aí viveram e não o puderam contar.

Por outro lado e como acontece um pouco por todo o nosso país, os vestígios que poderiam ajudar a bem compreender quem aí viveu, foram desaparecendo em favor das necessidades mais mundanas dos que escolheram ficar e aí erguer uma vida, sustentada no que dá a terra.

Assim, com grande dificuldade recolhemos escassos dados que indiciam um fio condutor na história desta terra e das suas gentes.

As suas origens não são conhecidas com exactidão mas dentro dos limites da aldeia e nas suas povoações vizinhas encontramos vestígios de ocupação pré-romana, marcas que venceram o tempo e que se sabe (pelas suas características) pertencerem à “Idade do Ferro”, nomeadamente um rochedo granítico com arte rupestre, com pequenos fossos ligados entre si por canais e um menir com desenhos cruciformes que embora seja mencionado em muita literatura sobre a região, e nas conversas dos mais velhos, ainda não o encontramos para documentar neste blogue. Fica aqui a promessa de o localizar com precisão, bem como outros vestígios que se pensa pertencerem a este período.

Os romanos também por cá se fixaram, sendo já sobejamente conhecida a sua presença na cidade de Chaves, é também possível encontrar vestígios de ocupação romana neste lugar, esta proximidade a AQUAE FLAVIAE ou AD AQUAS pressupõe desde logo que os romanos se tenham espalhado pela zona. Em Mairos ainda são muitos os vestígios dessa presença, aliás sabemos que existia uma via vicinales (ligação dos povoados às vias principais) que”…per mediatorio de marius (Mairos) …et inde per Aquas Frigidas” (Águas Frias) et sub civitatelia de Batocas”, ou seja, …partindo de Águas Frias e abaixo da Cidadela de Batocas… pelo meio de Mairos, esta referência que encontramos nos diplomas bracarenses do Liber Fider, mostra não só a importância da zona servida com esta ligação à Via romana que ligava Braga a Astorga passando por Chaves, mas também que primitivamente, o julgado ou concelho de Monforte teria a sua sede ou cabeça, possivelmente acastelada em Batocas.

Normalmente as fixações romanas coincidiam com as escolhas anteriormente feitas por povos indígenas e assim sucessivamente até nós, daí as cidades e aldeias que hoje conhecemos serem edificadas literalmente por cima de outras que as precederam, também aqui foi o caso.

 

Casas de Monforte e o Castelo:

Aqui voltamos a referir a envolvente, que gira em volta da própria história do Castelo de Monforte de Rio Livre que se eleva como uma sentinela na crista da cordilheira do Brunheiro, com vistas para a Galiza. Antes de mais salientamos as possíveis razões para esta toponímia, (…de Rio Livre), sendo a razão mas publicitada a de fazer referência à distância a que este se encontrava de qualquer rio, portanto, livre de rio, no entanto outra hipótese é colocada e talvez esta com mais razão de ser, refere-se ao facto de para incentivar a fixação de povoação os direitos eram mais amplos, não sendo cobrada a habitual taxa para pescar a quem lá vivia, como vamos verificar adiante.

A primeira fortaleza era apenas constituída por um castro celta por onde passaram romanos e mouros e que durou até ao séc. XII, altura em que foi substituída por um castelo.

Em 1273, depois de uma razia resultante das guerras com Leão, D. Afonso III de Portugal concede-lhe foral e o título de vila com o sentido no repovoamento. O rico homem de Monforte era então Martim ou Martinho Afonso (filho bastardo de Afonso III) que era também mandatário da Vila de Chaves. Em 1278 foram fixados os direitos e as obrigações dos 50 homens que defendiam a fortaleza, concedendo-lhes o usufruto de todas as terras da coroa que pudessem cultivar ou arrendar, sendo dispensados dos direitos de portagem, ou de outras contribuições pelos alimentos que lá entrassem.

Dentro das muralhas a pequena vila de Monforte de Rio Livre, sede do Concelho com o mesmo nome, para além de 14 fogos, contava também com: Uma casa da Câmara, cadeia, igreja matriz, pelourinho, a capela de Nossa Senhora do Prado. É no séc. XIV que fica com a aparência que hoje se lhe conhece, graças a D. Dinis, que em 1312 manda erguer a torre de menagem e fortificar as muralhas.

Das antigas muralhas pouco resta, pois muitas das suas pedras serviram para a construção de casas nas aldeias circundantes, muitas foram as tentativas dos monarcas para manter esta vila mas todas foram em vão, no entanto, o concelho apenas foi extinto no séc. XIX, sendo que por esta altura entre muralhas apenas viviam cerca de 10 pessoas. Dedicaremos no futuro um capítulo dedicado em exclusivo ao castelo e ao concelho de Monforte de Rio Livre, por agora cabe apenas situar histórica e sociologicamente as origens da aldeia de Casas de Monforte.

 

Casas de Monforte: a aldeia

É como vimos, ligada a esta história que poderá estar a origem da aldeia tal como ainda hoje a percebemos, destacamos o cruzeiro do Santo Cristo do séc. XII, sendo a respectiva capela que agora o envolve mais tardia com a sua sineta de 1607, a casa do mosteiro que se sabe ter uma estreita ligação com este cruzeiro e a igreja de Santa Marinha que embora não seja visível qualquer datação é de considerar que estará composta por dois corpos distintos, sendo a nave de construção muito mais recente provavelmente do séc. XVII e a zona do altar de um período mais antigo, provavelmente séc. XII, inícios de XIII, tendo em conta as suas características arquitectónicas, pelo menos é essa a nossa conclusão.

Por toda a aldeia se notam, as marcas de um passado atribulado e de uma organização algo apressada, notória nos alinhamentos das habitações que influenciaram a apresentação dos seus arruamentos algo acanhados e irregulares, a agricultura moldou as características das casas e dos respectivos acessos, para além da casa do mosteiro pouco mais podemos realçar da arquitectura civil, apenas duas outras casas evidenciam um estilo de vida mais desafogado com preocupações mais estéticas que as “vizinhas”.

Muito mais haveria a dizer sobre cada pormenor desta terra e à medida que se olha mais atentamente novas teorias nos surgem à memória para explicar o que seriam no seu tempo, passem por lá, vejam e digam qualquer coisa, juntos, podemos completar a história desta aldeia…

Hugo Peixoto

 

  

Algumas informações historicas retiradas da Blogosfera sobre Casas de Monforte :

 

Casas de Monforte, é uma aldeia antiga, com um imponente edifício, denominado de Casa do Mosteiro pertencente à família Chaves que possuía pedra de armas. Associada a esta casa está a capela do Santo Cristo, onde se situa um nicho das Almas do Purgatório, uma sineta datada de 1607 e um artístico cruzeiro abrigado pela galilé da capela. Reza a tradição que todo este património teria sido construído por dois frades em observância das regras de uma ordem. Teriam realizado uma peregrinação, a pé, até Roma donde foram portadores, no regresso, de muitas indulgências para a sua capelinha do Santo Cristo. A aldeia situa-se praticamente toda ao longo de uma comprida rua, elevando-se no cimo dela, a igreja de Santa Marinha, padroeira da igreja. Acima da aldeia está a capela do Senhor dos Aflitos. Possui uma Associação Cultural Recreativa e Desportiva que funciona na Casa do Povo, e um Centro Comunitário sob a dependência da Câmara Municipal de Chaves. Na envolvente da aldeia existem várias memórias arqueológicas entre as quais se destaca um lagar cavado na rocha, um menir com cruciformes insculpidos e uma rocha nas Meias, que ostenta diversos motivos da arte rupestre, tão abundante na região. Contam as muitas lendas que debaixo dessas belas pedras existiriam tesouros de ouro enterrados e, por isso, os "caça tesouros" profanaram esses locais à procura das riquezas que aí estariam escondidas. Outra lenda refere que antigamente as raparigas iam a esse local, lançar pedrinhas ao menir na persuasão de que tantos anos estariam solteiras quantas tivessem que atirar, antes de em cima, ficar uma.

 

Esta freguesia esteve sempre muito ligada ao Castelo de Monforte de Rio Livre que se situa na antiga Civitatella de Batocas. O castelo assenta, segundo os arqueólogos, sobre um castro romanizado. Sustenta esta afirmação o facto, entre outros, de terem sido encontradas, nesse local, duas aras, uma das quais dedicada ao deus Larouco. A construção do castelo é atribuída a D. Dinis e sobre ele verseja o povo, evocando a tradição:

 

Eu, Dinis
Sete castelos fiz
Mas o mais forte
É o de Monforte.

 

O julgado de Rio Livre foi fundado em 1267, teve forais dados por D. Afonso III, D. Afonso IV e D. Manuel I. O primeiro criou a célebre feira de Monforte, bem ao uso do tempo medievo, que durava dois dias. Para relembrar os velhos tempos é feita anualmente no verão, na zona envolvente do castelo, uma recriação dessa feira com trajes, jogos e artigos da época. Isto para que a memória das gerações passadas não seja esquecida. Dentro das espessas muralhas localizavam se a Câmara, a cadeia, a Igreja Matriz da devoção a S. Pedro, a residência dos abades, o pelourinho e a capela da Senhora do Prado. O brasão da extinta vila e concelho encontra-se na Câmara de Valpaços. Para visitar este castelo muito interessante e conservado na sua alcáçova recomenda o ditado popular, "Se vais para Monforte não te esqueças da merenda e nem do capote!".


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